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Muana Pwo, máscara feminina Tchokwe
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4. Transformações na Civilização Bantu
Antes de cobrir a etno-história da região da Damba é útil cobrir de uma
forma macro-histórica muito geral as quatro transformações que mais
influenciaram a história de África a sul do Sahara nos últimos cinco mil
anos:
a) a expansão Bantu
b) o tráfico de escravos nos contextos africano, da África central, e de Congo e Angola
c) o grande intercâmbio colombiano
d) a partilha de África e o colonialismo europeu
4. 1 A Expansão Bantu - As Grandes Migrações na África a Sul do Sahara
Se bem que com certo risco de demasiada generalização, nós podemos classificar a antiguidade dos povos que habitaram o actual território de Angola de acordo com quatro indicadores de evolução histórica:
a) pelo o seu modo de produção - colectores primeiro, agricultores depois, criadores de gado mais tarde, e por último comerciantes;
b) pela evolução cronológica das suas línguas - línguas antigas e modernas; como as palavras evoluiram ao longo do tempo
c) e mais recentemente, pelo perfile genético desses povos - há quantas gerações atrás os povos se dispersaram
d) pela evidência arqueológica, dificil de obter devido ao calor e acidez dos solos da África Central
Os
povos colectores pré-Bantu (Khoisan e M'Buti) foram os primeiros grupos humanos a
habitar a região a que hoje chamamos Angola. Estima-se que os Khoisan
(Bosquímano) foram os primeiros grupos humanos a habitar todo o
território actual de Angola, vindos do Sul e do Leste (do Kalahari) há cerca de cinquenta a vinte mil anos atrás.
A confirmar esta hipótese, devemos lembrar-nos que a tradição oral do povo Bakongo do norte de Angola faz referência aos Mbaka (povos de anões / Mbuti / Pigmeus) que habitavam a região antes da chegada dos povos Umbundu e Bakongo à região. Não confundir esta referência com o povo Mbaka cujo território tradicional inclui porções do nordeste da República Democrática do Congo e República Centro Africana, que fala a língua mbaka.
Depois, com origem e tempo ainda não confirmados com
precisão, chegaram os povos M'Buti (Pigmeus) que vieram da floresta do Alto Congo e que removeram os Khoisan e
que vieram a habitar todo o território a norte da linha de divisão de águas ao longo do
planalto angolano até à bacia do Rio Zaire na África Central,
continuando os Khoisan a habitar o território a sul da linha de divisão
de águas (Bacias do Cunene e Cubango) e a área costeira (deserto do
Namib).
Ambos os povos Khoisan e M'Buti foram eventualmente
absorvidos, conquistados, removidos ou aniquilados pelos povos agricultores e ferreiros Bantu, que passaram a
ocupar a quase totalidade do território actual de Angola. Em termos de modo de produção e tecnologia,
os Bantu eram agricultores e dominavam a metalurgia do ferro, uma vantagem chave que
resultou na sua dispersão não obstruída e conquista de todo o território anteriormente
ocupado pelos M'Buti e Khoisan que viviam no que veio a ser o actual território de Angola.
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Uma possível sequência das migrações Bantu para a África Central
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Entre
cinco mil e dois mil anos atrás os primeiros povos Bantu chegaram à
região costeira do Congo e Angola. Ainda sem confirmação,
estima-se que os primeiros povos de ascendência Bantu a chegar à costa
de Angola foram os Ambundos, pois é aceite pelos estudiosos de linguística que o Kimbundo é uma língua Bantu mais antiga do que o Kikongo. Ao longo dos próximos séculos, os Ambundos expandiram-se para o interior ao longo da bacia do Rio Quanza e até às margens do Rio Cuando.
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As Grandes Migrações Bantu na África Central e Oriental e Sul, de 500 AC a 600 DC
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Acredita-se que o
povo Bakongo tem origem remota nas segundas migrações Bantu que
partiram da região-núcleo que é situada no que é hoje o país dos
Camarões (cultura Nok) a norte do Golfo da Guiné. Esta migração seguiu em direcção para sul ao longo da
costa de África, se bem que por uma rota através do interior ao longo dos grandes rios Ubangui, Congo, Cuando, e até Kassai, até às regiões norte e centro de Angola actual entre os
primeiros séculos da nossa era e o século XI.
Cerca de meio milénio mais tarde chegaram à
Bacia do Zaire (ou estabeleceram-se nela) os Bakongo, que passaram a ocupar as regiões costeiras
de Loango e Cabinda, o Baixo-Zaire, e o planalto do Congo (no centro da actual província do Uíge) até para além
do Rio Cuango e para sul até ao Rio Dande. É importante notar que ainda não se pode confirmar que os Bakongo imigraram para a região, ou se a sua formação como cultura distinta dos Ambundos foi resultado de transformações culturais, linguísticas, ou políticas que ocorreram na região do Baixo Congo.
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O continente africano até ao século XV, mostrando o padrão das migrações Bantu na África Central e Oriental
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Os
Ambundo e os Bakongo usaram a rota migratória directamente para sul ao
longo da costa Atlântica, tendo os Ambundo chegado primeiro (estima-se que no Séc. VI e VII) ao actual território de Angola que os Bakongo, que chegaram no Séc. XI.
Os outros povos ancestrais da Angola actual (Nganguela e Xindonga (agricultores), Ambó (pastores), Lunda-Tchokwe (comerciantes), que mais
tarde imigraram para o actual território de Angola tomaram originalmente a rota leste,
da região dos Camarões em direcção aos Grandes Lagos, donde depois emigraram para oeste e sul até à bacia
do Rio Zambeze e mais tarde ainda mais para oeste e sul até chegarem
aos seus territórios em que é hoje Angola.
O
mapa a seguir dá uma indicação mais detalhada dos movimentos migratórios
Bantu na África central, incluindo a bacia do Zaire e os planaltos do
Bié, Huambo, e Huíla:
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Movimentos migratórios Bantu no actual território de Angola, com estimativas de datas
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Acredita-se que os povos Umbundu e Nhaneka-Humbe são de origem mais recente, formados mais pela miscegenação de povos vizinhos resultantes das profundas transformações sociais e políticas causadas pelo tráfico de escravos (comerciantes) já depois da chegada dos portugueses, do que de migrações de longo curso. Cabe ainda mencionar a excepção do Povo Herero (pastores) que emigrou do território actual da Namíbia com direcção a norte, para o canto sudoeste de Angola (províncias de Benguela e Namibe).
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Terra do Preste João, mapa de Jacob Ortelius, 1688
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4.2 O Tráfico Trans-Atlântico de Escravos
A
instituição da escravatura na Àfrica central já existia antes da
chegada dos portugueses ao Congo. Uma pessoa tornava-se um escravo como
prisioneiro de guerra, por sentença de crime grave na comunidade, por garantia de dívida, por não
pagamento de dívida, e em raros casos por entrega própria ou de
familiares por razões de pobreza irremediável.
Na
sociedade ancestral bakongo os escravos eram classificados em duas classes principais: escravos domésticos (Bana a nzo e bana a bata) e escravos que podiam ser vendidos (Bantu a mbongo e bantu a nzimbo). era tratado com
indulgência, como uma pessoa da comunidade e não como uma mercadoria.
Embora o escravo não podia ser considerado como membro de uma kanda, nem
tivesse direitos de propriedade, ele/ela não passava o estatuto de
escravo para os seus filhos, e podia em certas situações tornar a ganhar o estatuto de não-escravo, ou mesmo de relevo social e político.
A
região costeira e todo o hinterland até cerca de mil quilómetros da
costa de África a sul do Gabão até um pouco a sul de Benguela (Caconda,
Quilengues, e Nano), foi durante todo o período do tráfico
trans-Atlântico a que mais escravos forneceu às Américas (Sul, Norte e
Caraíbas). O número de pessoas vítimas do tráfico transatlântico estima-se em cerca de
10 milhões de africanos arrancados das suas terras e vilas durante um
período de mais de 350 anos (entre 1455 e 1880).
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O Mapa de África, de Fillipo Pigafetta, 1591 |
Com
a chegada dos portugueses à foz do Rio Zaire em 1483 e o
estabelecimento de relações com o Antigo Reino do Congo, a instituição tradicional da escravatura conguesa mudou radicalmente em poucos anos. Em vez de continuar a viver na comunidade, o escravo passou a ser uma mercadoria e a ser exportado para mercados longínquos. Após a chegada dos portugueses, o destino
inicial da maioria dos escravos do Congo eram os engenhos de açúcar na Ilha de São Tomé, estabelecidos
pelos cristãos-novos (judeus) portugueses que para ali se refugiaram depois das perseguições judaicas em Portugal, entre 1481 e 1540. De facto, os primeiros habitantes permanentes das ilhas de São Tomé e Príncipe foram os escravos vindos do Congo e Angola, então chamados Angolares, pois estas ilhas (então ainda desabitadas) tinham sido descobertas em 1470 pelos navegadores portugueses João de Santarém e Pero Escobar.
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Mapa holandês antigo das Ilhas de São Tomé e Príncipe, meados do séc. XVII
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Depois, com o despertar do ciclo do açúcar no Brasil, durante as duas últimas décadas do séc. XVI, a maioria dos
escravos passaram a ser levados para os engenhos de açúcar na costa brasileira da Amazónia,
Grão Pará, Maranhão, Pernambuco, Recife e Bahia a norte, até às cidades do Rio de
Janeiro, São Vicente (São Paulo), e um pouco mais a sul para a Colónia do Sacramento e até Buenos Aires, de onde eram
levados para as pampas da Argentina e para as minas de prata da Bolívia e do Perú.
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A cidade de Loango, gravura de Olfert Dapper (ca. 1680) |
Entretanto, após este período inicial, grande número de
escravos do Congo foram levados para as Caraíbas (para Cuba e Haiti em
especial), pois os holandeses, ingleses e franceses copiaram nas
Antilhas e nas Guianas o modelo de exploração agrícola tropical com base na plantação
de açúcar estabelecida pelos portugueses na Ilha da Madeira, depois
melhorado na Ilha de São Tomé, e mais tarde ainda mais aperfeiçoado no
Brasil.
Durante o ciclo do ouro e diamantes no Brasil (nos princípios do Séc. XVIII), o
fluxo de escravos aumentou para alimentar as minas de ouro e diamantes em Minas
Gerais, para além das minas de prata do Cerro de Potosi no Perú,
onde durante o período de 350 anos de trabalho na minas, se estima que tenham morrido entre 5 a 10 escravos por dia (mais de um milhão no total).
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O Castelo da Mina, a principal feitoria portuguesa estabelecida em 1471 para o resgate de escravos no golfo da Guiné |
Já
no Séc. XIX, e como resultado do esforço da abolição da escravatura na Europa, os
escravos de Angola, continuaram a ser levados para as as plantações de
algodão e tabaco nos estados do sul dos Estados Unidos da América até 1871, para as
plantações de açúcar e de tabaco em Cuba, e para as fazendas de café do
Brasil, até à a promulgação da Lei Áurea no Brasil em 1888, que aboliu de vez a escravatura e o tráfico de escravos no Brasil, e encerrou de vez o capítulo triste do tráfico transatlântico de escravos na história da humanidade.
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Caravana de escravos a caminho da costa do Senegal (Séc. XIX)
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É
de notar aqui que dois outros grandes sistemas de exploração de
escravos africanos existiram em África, mas talvez com dimensão inferior
ao do tráfico trans-Atlântico de escravos. Desde os tempos muito
antigos da civilização egípcia, do apogeu de Cartago, e mais tarde do Império
Romano, escravos eram trazidos do Sudão (em árabe bilad al-sudan - a terra (país) dos negros) e do Sahel
através do deserto do Sahara (conhecido como o tráfico trans-Sahariano
de escravos) para servir esses mercados. Este sistema durou mais de dez
séculos, estimando-se que cerca de dez milhões de escravos foram
extraídos da África a sul do Sahara.
A principal região fornecedora de escravos para este mercado foram os povos que habitavam a faixa do Sahel e sul até à costa do golfo da Guiné, e através de todo o território a sul do Sahara até ao Sudão e à costa do Mar Vermelho. O comércio trans-sahariano de escravos era controlado por potentados muçulmanos. Estima-se que só um escravo em dez chegava vivo ao destino (Médio-Oriente), e que destes a maioria ia servir como eunucos (homens castrados) e concubinas de aristocratas árabes.
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Rotas do tráfico de escravos trans-Sahariano |
Com
a expansão do domínio religioso muçulmano à antiga Pérsia, Índia, Ásia Central, e
litoral africano no Índico, desde Axum até Sofala, o tráfico de escravos
africanos aumentou muito, pois o mercado consumidor de escravos
africanos aumentou exponencialmente com a exportação de escravos para a
Turquia (Império Otomano) Índia (Império Mogul), Bengal, Ceilão, e
mercadores da Insulíndia (Java, Sumatra, Sião, Vietname, e China).
As regiões fornecedoras de escravos no mercado ìndico foram principalmente a África Oriental (actual Quénia, Uganda, Tanzânia, Moçambique, Zimbabue, Malawai, e Zâmbia) e os principais mercados de escravos no Oceano Índico eram os portos
da costa Swahili de Melinde e Quíloa, as ilha de Zanzibar e de
Moçambique, e a costa de Sofala (já no actual território de Moçambique).
Estima-se que o volume do sistema ìndico de tráfico de escravos foi menor e durou
menos tempo (dos Séculos X aos fins do Século XIX) do que o
trans-sahariano e que o trans-Atlântico. Este comércio era controlado por potentados muçulmanos da região que também controlavam o comércio no Oceano Índico.
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Mapa do tráfico de escravos árabe na África Oriental |
As
populações que viviam ao longo da costa e no interior da bacia do rio
Zaire, e territórios para além da Lunda e da bacia do rio Zambeze a
leste, e para sul até para além dos planaltos do Huambo, Bié e Huíla a
sul, foram as que sofreram os horrores da escravatura por mais tempo.
Apanhados nas guerras kwata-kuata (razias de escravos) no
interior, com ou sem a conivência dos sobas locais, as populações eram
arrancadas das suas aldeias e eram organizadas em caravanas de escravos
que tinham que fazer longas caminhadas acorrentados e a pé (alguns por mais de mil quilómetros) desde o local de
aprisionamento até Luanda ou Benguela na costa atlântica.
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Um mercado árabe de escravas europeias dos Balcãs
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As rotas locais do tráfico de escravos na África Central e actual
território de Angola, seguiam em geral o curso e a orientação dos maiores rios
no fim dos quais se situavam os principais portos negreiros. Nos
primeiros tempos após a chegada dos portugueses, os escravos eram
capturados nas regiões vizinhas aos rios no território Bakongo (Loango, Malembo, Cabinda, e Pinda), mas à
medida que as populações rareavam nestas regiões devido ao volume anual de escravos
capturados, os mercados fornecedores passaram mais para o interior,
chegando a atingir mais de mil e quinhentos quilómetros da costa (para
além dos rios Cassai, Zambeze, Lungué-Bungo, Cuando, e Cubango.
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Uma caravana de escravos africanos a serem levados para a costa (Séc. XVIII)
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Assim,
temos o mercado do Congo que abrangia o hinterland do Loango e Congo
(povo Bakongo) que ia confluir nos portos negreiros de Pinda (Sonho),
Loango (Ponta Negra), Malembo e Cabinda. O nome ancestral da cidade de
Cabinda é "Tchioa", o que significa empório de grande comércio de
pescados. A área de captação de escravos para este mercado era muita
vasta abrangendo Cacongo (Lândana) e o Loango (a norte da floresta do
Maiombe), Mpumbu, Nsundi (Lago Malebo, Kinshasa) e Tio (Bateke / Anzico) e as
áreas de Kuilo, Nkusu, Sosso, Zombo, Yaka, Wando, e Sonho. Inicialmente,
os escravos eram levados de Tchioa e Cacongo para a Ilha de São Tomé,
mas depois a principal zona de destino passaram a ser as costas brasileiras de
Maranhão, Pernanbuco, Pará, e Bahia. O porto de Loango foi durante muito tempo
um uma das principais bases negreiras francesas na região para suprimir
as necessidades de força de trabalho escrava para as plantações e
engenhos de açúcar da colónia francesa do Haiti.
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Principais reinos da África Central fornecedores de escravos para o tráfico trans-atlântico de escravos (Sécs. XVI - XIX)
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O
mercado do Ambriz captava escravos ao longo dos rios Loge e Mbridge nas
áreas vizinhas dos Dembos, Encoge, Caipemba, Nabuangongo, Ambuíla,
Ambuela, Ambrizete, e Tomboco, povoadas pelo povo Bakongo. O mercado do
Ambriz foi dominado durante muito tempo por negreiros ingleses, que
exportavam escravos principalmente para as plantações de açúcar nas
Antilhas e para os Estados Unidos da América.
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Escravo Africano acorrentado e coberto por malha de rede para não fugir. Golfo da Guiné Séc. XIX
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O
mercado de escravos da bacia do Cuanza, um monopólio português com base
em Luanda, abrangia as áreas de captação dos antigos potentados
ambundos de Angola, Kissama, Dondo, Muxima, Massangano, Pungo Andongo,
Ambaca, Ndongo, Matamba, Jinga, Cassange, Holo, Songo e Lunda, portanto a
maior parte das actuais províncias de Luanda, Malange, Cuanza-Norte,
Cuanza-Sul, e Lunda-Norte. Os principais mercados de destino de escravos
que saíam de Luanda era o Brasil (Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
Paraná, Rio Grande do Sul, e a Colónia do Sacramento, actual Uruguai),
Buenos Aires, e a as minas no Perú e na Bolívia. Luanda foi durante todo o período do
tráfico trans-Atlântico de escravos (três séculoes e meio) o maior
porto exportador de escravos do Atlântico.
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Caravana de escravos na África Oriental a serem levados para a costa do Índico (Séc. XIX)
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O
mercado de escravos de Ngunza, abrangia as regiões vizinhas do Seles,
Quibala, Amboím, e as áreas ribeirinhas ao rio Queve (Cuvo), povoadas
pelo povo ovimbundo. Antes da fundação de Benguela, o principal porto
negreiro da região era Benguela-a-Velha (Porto Amboím), mas mais tarde
(1769, no tempo do Governador Sousa Coutinho), o porto negreiro
principal passou a ser Novo Redondo (Ngunza).
O
mercado de escravos de Benguela, abrangia o hinterland dos planaltos
populosos do interior do povos ovimbundo, ao longo dos rios Catumbela e
Caporolo, bem como as terras mais para o interior, como Caconda,
Quilenges, Bibala, Nano, Lubango, Huambo, Bié, Andulo, Ganguelas,
chanas do Moxico até além-Zambeze, e Cuando Cubango. A maioria dos
escravos embarcados em Benguela e Novo Redondo eram levados para o Rio
de Janeiro, São Paulo, e sul do Brasil. O número de escravos exportados por Benguela foi também muito alto, apesar de inferior a Luanda e Cabinda.
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Carta dos Reinos de Angola e Benguela, Séc. XVII
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A
caminhada do ponto de captura até ao porto negreiro, que durava de três
a nove meses e em certas áreas ainda mais tempo, era feita sob
condições muito duras, a pé, sujeita a todas as formas de violência,
fome, doença, ataques de animais selvagens, abuso sexual, e de terror de assaltos de
outros ladrões de escravos. Quando chegavam já exaustos à costa os
escravos eram guardados em barracões nauseabundos durante alguns meses
mais até que o próximo navio negreiro os levassem para o além-Kalunga.
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Passagem do Meio - Escravos no porão do tumbeiro brasileiro "Albanez", apreendido pela Royal Navy na foz do rio Quanza em 1845 |
Ao
chegarem ao porto de destino e antes de irem para os leilões de
escravos para serem vendidos, os escravos recebiam uma ou duas refeições
melhores, e eram depois inspeccionados, lavados, e besuntados com óleo
de palmeira para parecerem mais saudáveis e luzidios e assim poderem
atrair um preço mais alto no leilão. Depois de comprados, os escravos
eram levados para o engenho, plantação, mina, ou residência doméstica e
marcados a ferro em braza com a marca do dono.
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Croquis do tumbeiro britânico "Brookes", 1800 Note-se como os escravos eram "armazenados" sem espaço sequer para mexer os seus corpos durante toda a viagem no convés e no porão para maximizar a carga de escravos no navio.
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Estima-se
que cerca de 20% a 30% das vítimas não sobrevivia a viagem do interior à
costa e o período de espera de embarque, que podia chegar a muitos
meses, o que se traduziu em mais de dois milhões de homens, mulheres, e
crianças perecidas nos caminhos da morte. A este número já em si
catastrófico, temos que adicionar cerca de 10% a 15% mortalidade na travessia atlântica nos tumbeiros (a Passagem do Meio), que se traduziu em mais de um milhão de africanos mortos na medronha travessia.
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Escravos num tumbeiro Francês, ca. 1800 Note-se que as mulheres eram separadas dos homens, para mais fácil accesso à tripulação do tumbeiro.
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Os
escravos revoltavam-se sempre que possível da tirania dos traficantes,
tripulação de tumbeiros, senhores de engenhos de açúcar, e autoridades
coloniais, chegando a criar estados independentes com governo e
território independente como os quilombos no Brasil. O quilombo de
Palmares é um exemplo de um estado de escravos fugidos que resistiu durante décadas à conquista
pelos luso-brasileiros.
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A revolta de escravos do tumbeiro Amistad, ao largo de Cuba em 1839 |
Assim chegamos
a uma estimativa de cerca de 5 milhões de escravos arrancados aos povos
do interior do que é hoje Angola e Congo (RDC e Brazza), e exportados
pelos portos de Loango (Ponta Negra), Malembo e Cabinda, Boma, Pinda
(Sonho), Ambrizete, Ambriz, Luanda, Benguela-a-Velha (Porto Amboím),
Novo Redondo (Ngunza), Benguela, e Catumbela. Os navios que
transportavam escravos chamavam-se tumbeiros (navios de morte, túmulos flutuantes) pela elevada mortalidade dos escravos que transportavam para as Américas.
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A Relevância da África Central e Angola no tráfico trans-Atlântico de escravos (1455-1888) |
Até
aos fins do século XIX, a escravatura era talvez a instituição social e
económica que melhor definia Luanda, pois Luanda foi durante alguns
séculos o maior porto negreiro africano. Asssim, Luanda era não só um
grande porto exportador de escravos, com toda a estrutura necessária ao
tráfico (comércio, barracões, armazéns, transporte, hortas, água,
alimentos, armação de navios, reparações, inspecção médica, pedra para
baptismo de escravos, e estrutura militar para garantira segurança do
tráfico), como também era uma cidade que dependia totalmente do trabalho
escravo para a sua economia.
Com
efeito, e até aos finais do séc. XIX, mais de metade da população de
Luanda era constituída por escravos domésticos, de aluguer, e agrícolas,
que faziam todos os tipos de trabalho, desde amamentar os bébés das famílias de
posses, a empregados domésticos, até transportar água do poço da
Maianga (ou mesmo até do rio Bengo), como prestação de serviços, como
pedreiros, sapateiros, alfaiates, cozinheiros em casas de pasto,
pedreiros na construção de edifícios, etc., até soldados de "guerra preta" para suportar as guerras de "Kuata, Kuata".
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Os escravos eram sugeitos a castigos muito duros mesmo para as faltas mais leves. Escravo a ser castigado no Rio de Janeiro, em 1834
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Se
bem que as maiores fortunas no tráfico de escravos se fizeram em
Portugal, na Inglaterra e nos Estados Unidos, também
grandes fortunas se fizeram em Luanda, Benguela, em Salvador da Baía, e
no Rio de Janeiro, no Brasil. O controle do resgate de escravos no
interior do actual território de Angola estava nas mãos de famílias
mestiças angolanas (mãe angolana e pai português) muito ricas e de
grande influência na sociedade luandense, que mantinham uma vasta rede
de aviados, pumbeiros e funantes por todo o hinterland do rio Cuanza,
terras além Cuango, e mesmo além Cassai. Com efeito o tráfico de
escravos foi a principal actividade económica em Luanda nos seus
primeiros trezentos e cinquenta anos de existência. Como tal, Luanda
tinha o seu pelourinho (só demolido em 1884) para administrar castigos
exagerados e crueis aos escravos que desafiassem o status quo da ordem
social e económica da escravatura.
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Castigos crueis e exagerados |
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Escravo a ser chicoteado no pelourinho do Rio de Janeiro, cerca 1836
A
escravatura foi justificada e suportada por um discurso religioso que
apresentava o cativeiro como um meio de salvação espiritual dos
escravos. A igreja católica determinou que era responsabilidade
do monarca português assegurar a catequese e o baptismo dos escravos
africanos antes do embarque para as Américas, pois só assim se podia
facultar a salvação da alma.
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Padre António Vieira pregando aos Índios
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Com efeito, o Padre António Vieira num dos seus sermões do Rosário disse: "Oh
se a gente preta tiradas das brenhas de sua Etiópia, e passada ao
Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus, e a sua Santíssima Mãe que
pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre e
grande milagre!", confirmou o vínculo entre a escravidão e a salvação
espiritual. Esta teoria foi oficialmente adoptada pela Companhia de
Jesus, em que era aceite que a escravidão dos africanos e o comércio
negreiro fossem vistos como legítimos na medida em que permitia arrancar os
africanos da idolatria e do pecado, e submetê-los ao domínio de
senhores cristãos que os instruíam no caminho da verdadeira
salvação cristã (sic!).
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Escravo com cicatrizes de chicotadas nas costas, |
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foto obtida num dos estados do sul dos Estados Unidos da América,
década de 1860
Assim
em Luanda, os escravos deviam receber catequese e ser baptizados nos
barracões de espera de embarque, antes de embarcarem nos tumbeiros. De facto, houve durante séculos nas Portas do Mar em Luanda (perto do Largo dos Correios) uma
cadeira de pedra na praia da baía de Luanda, na Corimba, e
no Morro da Cruz houve um espaço próprio
especialmente dedicado ao baptismo de escravos por
padres seculares (de maioria africanos) antes do ebarcaque nos navios
negreiros para a temível Passagem do Meio, para o qual os padres reebiam uma pequena quantia por cada escravo baptizado.
É
certo que o mero baptismo, ainda que fosse a porta de entrada para o
reino dos céus, não era suficiente para a salvação da alma, pois era
preciso instruir os escravos nos mistérios da fé católica e conduzi-los a
receberem os outros sacramentos, e tal só se conseguia através da
catequese. Porém, a questão da catequese era mais difícil de realizar,
pois por norma não havia tempo suficiente para catecatizar os escravos
nos barracões de espera, nem padres fluentes nas diversas línguas
nativas para o fazer, para além do facto de que os traficantes de
escravos não queriam assumir quaisquer custos adicionais, pois eles queriam o escravo para trabalhar, não para o evangelizar.
O tráfico de escravos do Atlântico começou com a chegada de escravos da costa ocidental de África ao porto de Lagos, no Algarve, Portugal em 1455, tão bem descrito por Gomes Eanes de Azurara na sua Crónica dos Feitos na Guné, continuando latente até cerca de 1580, começando a intensificar durante todo o século XVII, e atingindo volume muito maior e nunca visto durante as últimas décadas do século XVIII. Apesar do esforço da abolição da escravatura nos finais do século XVII I e princípios do século XIX, esta continuou ainda a crescer (ainda que ilegal) até aos fins de 1880s, década em que começou a cair muito. O Brasil e Cuba foram os últimos países a abolir a escravatura. O Brasil fê-lo através de um longo processo d esforços que culminaram com a Lei do Ventre Livre promulgada em 1871 e a Lei Áurea, promulgada a 13 de Maio de 1888, que aboliu definitivamente a escravidão no Brasil.
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Lei Áurea do Brasil, de 13 de Maio de 1888, que aboliu a escravidão no Brasil
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Mesmo depois da abolição formal do tráfico de escravos no Atlântico, escravatura como instituição económica e social continuou em forma ilegal em Angola como escravatura doméstica, se bem que em números mais baixos, e em forma de trabalho forçado para trabalhos públicos, como construção de estradas e obras públicas, até às duas primeiras décadas do século XX.
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Foto de ferreiro inglês removendo a grelha da perna de um escravo, na costa de Moçambique em 1907
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4.3 Rotas de Comércio
A
empresa dos descobrimentos portugueses abriu o mundo para toda a sua
extensão. De quatro macro-regiões económicas relativamente fechadas
entre si (Europa, Mundo Árabe, Índia, e Extremo Oriente), os portuguese
trouxeram "novos mundos ao mundo" com a abertura da África, das
Américas, e do Pacífico ao comércio internacional de então. Esta
abertura realizou-se em dois planos principais: comércio (produtos) e
evangelização (mentalidades).
Desde a Antiguidade até ao fim da Idade Média, ou melhor, até à época dos Descobrimentos Portugueses, o
intercâmbio comercial à escala mundial operou-se basicamente em dois sentidos - do Oriente (Japão, Coreia, China, Índia, Insulíndia, Ásia Central, e Médio Oriente) para o Ocidente (Europa, Médio Oriente, e Norte de África), e vice-versa (da Europa para o Oriente). Este comércio mundial de longo curso era controlado pelos muitos potentados muçulmanos da Ásia Central e pelas répúblicas Italianas (Veneza, Florença, e Génova). Devemos ainda lembrar que havia um comércio inter-europeu muito activo ligando todas as regiões da Europa, incluindo a Rússia.
Com a excepção da Rota da Seda, até à época dos Descobrimentos Portugueses as rotas de comércio eram predominantemente regionais - Mediterrâneo, Báltico, Índico, Insulíndia, e Mar do Japão - não ligando estas a uma rede global de comércio mundial.
Com o advento dos Descobrimentos Portugueses, o comércio mundial tornou-se pela primeira vez verdadeiramente global. Para além das antigas rotas de comércio (Mediterrâneo e a Rota da Seda), novas rotas se estabeleceram sendo a principal entre o
Novo Mundo (Américas) e o Velho Mundo (Europa, e Ásia) e
vice-versa e a outra entre a Europa e a África. Neste quadro global de trocas coube à Àfrica a exportação de
força de trabalho através do tráfico trans-Atlântico de escravos; às
Américas coube a produção de produtos coloniais (açúcar, algodão,
tabaco, e café), bem como a mineração de ouro e prata; e coube à Europa a
produção de meios de transporte, produtos manufacturados, e a gestão do sistema financeiro mundial.
Com
a expansão portuguesa e holandesa na Índia e Insulíndia e a espanhola nas Américas,
duas novas rotas marítimas de comércio de longo curso floresceram: a Rota do Cabo (Sul da África) trazendo principalmente especiarias da Índia e Insulíndia para a Europa, controlada inicialmente pelos Portuguese e mais tarde pelos
holandeses, e a Rota do
Pacífico, ligando o México às Filipinas (a Carreira de Manila, ambos sob domínio espanhol),
Insulíndia, e China. Mais tarde, já no princípio do Séc. XVIII, os Ingleses passaram a controlar a Rota do Cabo quando ocuparam a Índia.
No quadro mundial de trocas, os grandes perdedores foram as répúblicas Italianas, o Império Otomano, os Moghuls da Índia, e os potentados da Insulíndia. O papel da China não se alterou muito,
pelo que continuou a fornecer ao Ocidente tecidos, louças, chá, e especiarias, e importar prata e produtos manufacturados.
Com a ocupação europeia das Caraíbas e da América do Norte nos sécs. XVI e XVII, um novo sistema de trocas mundiais tomou raíz (Comércio Triangular), caracterizado essencialmente por capitais e produtos manufacturados da Europa, mão-de-obra Africana para
as Américas, e produtos coloniais (açúcar, algodão, tabaco, e café) das
Américas para a Europa, que se manteve até a ascensão dos Estados Unidos como maior potência económica do mundo, já no Séc. XX.
4.4 O Grande Intercâmbio entre o Velho Mundo e o Novo Mundo
O intercâmbio que adveio do contacto entre povos de regiões muito díspares no mundo não se limitou ao comércio de produtos agrícolas, minerais, e industriais; com efeito o este intercâmbio incluiu pessoas, animais, plantas, cereais, alimentos, doenças, ideias, cruzamento de culturas, e até a uma nova maneira de ser e estar no mundo - um homem novo.
Em termos de novos alimentos vegetais vindos das Américas e chegados à Europa temos, entre outros, a batata, o tomate, a mandioca, o milho, o feijão, o amendoím, a batata doce, a abóbora, o abacate, o pimento, o ananás, a baunilha, o cacau. Em termos de animais temos o perú, e em termos de outras plantas temos o tabaco e o quinino. Em sentido opsto, isto é, trazidos da Europa para as Américas, temos o café, a banana, a cana de açucar, a uva, a laranja e o limão, a azeitona, a cebola, o nabo, o pêssego e a pêra. Em termos de cereais temos o trigo, o arroz, o centeio, e a aveia. Temos ainda animais domésticos como o boi, a ovelha, o porco, e o cavalo. A abelha de mel foi também trazida da Europa para as Américas.
O Grande Intercâmbio entre o Velho e o Novo Mundo permitiu também a transmissão de doenças mortais com efeitos devastadores nas Américas como a varíola, o tifo, a gripe, o sarampo, o paludismo, a difetria, e a tosse convulsa. A malária e afebre amarela foi levada da África para as Américas. Estima-se que nos primeiros cem anos de contacto com Europeu nas Américas, cerca de 95% da população nativa americana pereceu a novas doenças para as quais não tinham defesa.. No sentido contrário, a sífilis expandiu-se das Américas para a Europa. Na farmacopeia onde uma verdadeira revolução teve lugar, muitos remédios passaram a a ser usados em todo o lado, como por exemplo o quinino, que era usado originalmente pelos Ìndios do Perú no tratamento de paludismo.
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As famosas acácias rubras de Luanda e Benguela
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Pessoas - colonos, escravos africanos, Índios dizimados
Animais domésticos
Plantas, cereais, e especiarias
Alimentos
Doenças
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Buganvílias em Luanda
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Culturas
Metais e riqueza
Cruzamento de povos e mestiçagem
O homem novo
4.5 - A Partilha de África
Conferência de Berlim
Estabelecimento de colónias
Bacia Convencional do Zaire
Tolerança religiosa
Liberdade de Culto
Ensino Religioso
Campanhas de Ocupação militar
Evolução administrativa
Luta de libertação
Descolonização
Independência
5 - Etno-História da Damba
Neste
contexto, a Damba tem um legado histórico importante, pois desde há
alguns séculos que era um dos povoados mais importantes na área fronteiriça
entre as antigas províncias de Mbata e Mpemba, com uma feira muito
activa na confluência dos sobados do Nsosso, Wandu, Nkuso, e Zombo no
tempo do Antigo Reino do Congo, antes da chegada dos portugues às terras
do Congo.
Segundo Duarte Lopes na sua "Relação do Reino do Congo e das Terras Circumvizinhas", publicado por Fillipo Pigafetta em 1591, nos meados do século XVI a região da Damba era tida como
rica em minerais, especialmente ferro, cobre, e prata, e foi na base da
recusa do Rei do Congo Dom António I Manimulaza (Vita Nkanga Ndontoni) de autorizar os portugueses a explorar prata na região que se radicalizaram as
posições que levaram à famosa Batalha de Ambuíla em 1665. Foi com esta
vitória que os portugueses conseguiram destruir o prestígio dos reis do Congo por mais de duzentos anos.
Era também na área da Damba que se realizava um dos maiores mercados regionais do interior (Konzo-Kipemba), sendo o maior em Maquela do Zombo (Mpangala-Zombo). A fama destes mercados regionais era conhecida através do Antigo Reino do Congo, pois não eram só mercadoss locais mas sim mercados regionais onde se compravam e vendiam produtos de áreas muito distantes.
Tavola del Regno de Congo, Duarte Lopez e Fillipo Pigaffeta
Relação do Reino do Congo e das Terras Circumvizinhas, 1591
A sua herança histórica e cultural abriram-me a mente à história
dos povos africanos em Angola, que decerto tinham a sua história, mas
que por muito tempo se havia de mostrar como um mistério para mim.
Pensava às vezes que, talvez devido à minha incapacidade de encontrar
resposta a essas perguntas, aceitava a vida como me era oferecida, sem
ter que aprofundar mais o assunto. Contudo, a falta de resposta a
perguntas como essas continuava a "roer-me" a mente até encontrar
resposta.
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O baptismo do Príncipe do Sonho, em Pinda (Soyo), 1491 |
Pelo que a minha mãe me dissehá muitos anos, o nome "Damba" vem da baixa ou vale
por onde passa oum riacho ribeirinho (Ndamba) a leste da vila onde íamos
pescar bagres. Por
outro lado, também ouvi dizer também que o termo "Damba" vem de uma
cobra
pequena muito comum na região. Contudo, cumpre dizer que não há consenso
sobre a origem do nome "Damba", pois como Sebastião Kupessa explica na
sua análise sobre a origem do nome Damba, outras fontes indicam que o
nome da povoação provém de "Nendamba", o nome de um chefe destacado de
uma das tribos do Antigo Reino do Congo. Por outro lado, Patricio
Batsikama oferece outra explicação, referindo o facto que a
etimologia do
termo "Damba" vem de "Ndamba", o que por sua vez tem origem no verbo
"Lamba", que significa "cozinhar" em Kikongo, e para "cozinheiro" a
palavra é "Ndamba", e em termos etno-históricos, cozinheiro é entendido
como aquele que dominava a arte de fabricar utensílios de ferro
(ferreiro), e que a
na área da Damba em tempos ancestrais havia uma mina onde se extraía
ferro. Outra explicação baseia-se na tradição oral, que nos diz que o
nome "Damba" vem do nome de "Na Ndamda Lutayi" um membro legendário da
kanda Kikenge, que viveu na área e deu o nome à povoação. Contudo, esta
explicação é refutada, pois o nome "Damba" à povoação já existia antes
do legendário Na Ndamba Lutayi ter nascido. Soube ainda que em
2014 houve um colóquio na cidade do Uíge com o fim de investigar as
origens do nome "Damba" e que, devido à pluraridade de opiniões e
dúvidas, não se chegou a qualquer consenso, e que o consenso final (pela
falta de consenso) do colóquio
foi criar um grupo de estudo encarregado de investigar o tópico mais
profundamente. Contudo, até agora o mesmo continua ainda não resolvido.
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Gravura do Rei do Congo (Séc. XVI)
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O povo nativo da região da Damba pertencia à tribo Sosso (ou Nsosso, plural Ba-Sosso)
da nação Bakongo (Ba (plural) - Kongo), que pertence ao grande grupo Banto que se estabeleceu
na região durante os séculos X e XI, e que fala Kikongo. A base
económica dos Bassosso
assentava no cultivo e produção de café, ginguba, feijão, e algum arroz
para venda a comerciantes europeus, e no cultivo de mandioca, batata
doce, milho, e vegetais para consumo familiar. As culturas
verdadeiramente tradicionais incluiam somente o milho miúdo, o sorgo e
banana, e diversos tipos de carne, incluindo galinha, porco, cabrito,
carneiro, pacaça, elefante, lagartos e ratos, aos quais foram
adicionados o milho, a ginguba, a mandioca, a
batata doce, o taro, o café, a goiaba, o ananás, a laranja e o limão, a
cana de açúcar, e
a goiaba, que foram todos introduzidos na região pelos portugueses
depois da sua chegada à foz do Rio Zaire em Março de 1483.
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A Queima dos Ídolos em São Salvador (Mbanza Kongo) ordenada em 1491 pelo Rei do Congo Nzinga-a-Cuum, primeiro rei católico Dom João I (1470-1509)
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O
comércio era muito activo através de feiras locais (quitandas) nos
povos em que compravam e vendiam produtos locais e produtos importados
de Luanda e do Congo Belga. As quitandas (feiras) eram organizadas
semanalmente perto dos povos de maior população. Antes da chegada dos
portugueses, a semana era composta por quatro dias (Ponna, N'kando,
Quengue, e Conzo). A base da alimentação era o funge (farinha
de mandioca ou de milho) acompanhado de peixe seco que vinha de Luanda e
Moçamedes, e molho de muamba (molho feito com óleo de ginguba), e frequentemente condimentada com muito gindungo. A caça era também uma fonte importante de proteínas para a
alimentação. A bebida predilecta dos Bassosso era o malavo que
era feito de seiva de palmeira fermentada, se bem que o infundi feito com farinha de milho grosso e o banvo, o bibidi, e o samba também eram apreciados.
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Mulher de Maquela do Zombo a fumar cachimbo (1958) |
Lembro-me ainda que o uso de
tabaco era muito comum, e até o de liamba, bem come o de
mascar cola. Não posso
esquecer aqui o facto de que muitas mulheres mais velhas fumavam tabaco
com a ponta acessa do cigarro para dentro da boca, o que eu muito
admirava. O que me admirava ainda mais é que elas podiam falar quase
normalmente enquanto tinham a ponta acesa do cigarro dentro da boca.
Também era comum ver-se pessoas a mascarem um caroço de parecido com o
caroço de abacate, a que chamavam kola.
Os rapazes construiam
maravilhosos carros e casas de bordão que em termos de funcionalidade e beleza
competiam com os melhores brinquedos europeus.
Como em muitos povos de Angola, o batuque (massau)
era um evento muito especial para as comunidades nativas da Damba. No
massau não podiam faltar os dançarinos e dançarinas que actuavam também
como coro, e ainda o quissange , o n'gombe, o mahungo, e as marimbas. O
quissange era feito com uma caixa metal em cima da qual se fixavam um
número de palhetas metálicas, que eram tocadas com os dedos. O n´gombe era um tambor afunilado feito com pele de animal. O mahungo era uma espécie de flauta, e as marimba eram feitas com cabaças de vários tamanhos. Em tempos antigos, o mpungi (ou kipungi) era uma trompa de marfim que só era usada em cerimónias e eventos especiais em que o rei do Congo tomava parte.
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Batuque (massau), Damba, 1956
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Ao
contrário dos Bazombo da região de Maquela do Zombo (onde eu
nasci, a norte e perto da fronteira com o então Congo Belga) que eram
comerciantes inatos comprando e vendendo tudo nas suas
feiras, desde luandos (esteiras de bordão) a refeições prontas a comer,
os Bassosso da Damba dedicavam-se mais à agrícultura. Os
Bassosso viviam em grupos de sanzalas (povoações tradicionais) chefiados
por um
soba. Cada povoação era regida por um
sobeta.
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Mapa do Reino do Congo na sua maior extensão, ca. 1600, mostrando as províncias e potentados satélites |
O
Antigo Reino do Congo era a unidade política soberana estabelecida pelo
povo Bakongo nos princípios do Séc. XVII, portanto muito antes da
chegada dos Portugueses ao Zaire. O
território do Antigo Reino do Congo compreendia a norte as terras a sul
do curso do Grande Rio (Zadi, Zaire) e a sul demarcado pelo curso do
Rio Dande (Dange), entre a costa atlântica a oeste e o Rio Nkisi a
leste.
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Mapa do Antigo Reino do Congo, cerca 1595 |
Segundo
Duarte Lopez e Filippo Pigafetta na sua Relação do Reino do Congo e das Terras Circumvizinhas (1591),
o Antigo Reino do Congo era composto por seis "províncias"(sobados
principais) relativamente autónomas, a saber: Sonho (Ducado de Soyo) a
oeste, entre os rios Zaire e M'Bridge; Bamba (Ducado de Mbamba) a
sudoeste, entre os rios M'Bridge; Sundi (Ducado de Nsundi, a norte e ao
longo do Rio Zaire); Pango (Marquezado de Mpangu, ao sul de Sundi e a
norte de Bata); Bata (Ducado de Mbata, a leste, onde se situava Maquela
do Zombo e a Damba); e Pemba (Mpemba, ao centro, onde se situava a capital
de Mbanza Kongo, e onde residia o Manicongo, ou Ntotila).
Embora com maior autonomia política do que as "províncias" descritas acima, os "reinos" de Loango, Cacongo, e Ngoio na costa atlântica a norte da foz do rio Zaire, faziam também parte do antigo Reino do Congo.
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Mapa do Reino do Congo, e reinos vizinhos de Loango, Cacongo, Ngoio, Tio (Anzicos), Ndongo (Angola), Matamba, e Yaka, 1648
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Monsenhor J. Cuvelier, na sua importante obra L'Ancien Royaume de Congo (1946),
ofereceu uma descrição mais detalhada e precisa da geografia politica
da região, indicando que o sobado da Damba se situava a sul do sobado do
Zombo, a leste do ducado do Nkusso, a norte do ducado do Wando, e a oeste do marquesado do Nsonso. Segundo o historiador Ralph Delgado
na sua notável obra "História de Angola", o Rei D. Afonso I (1509-43)
numa carta que escreveu ao Papa Paulo III em 1539, intitulava-se "Por
graça de Deus, rei do Congo, de Loango, de Cacongo e de Ngoyo, d'aqém e
d'além Zaire, Senhor dos Ambundos de Angola e da Quissama, de Musuauru e
da Matamba e de Muyllu e de Mussuco e dos Anzicos e da conquista de
Panzo-Alumbu".
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Os antigos reinos do Loango, Congo, Anzicos, Angola, Benguela, e Matamba, e o jagado de Kassange (1650) |
Por
sua vez, o Antigo Reino do Congo fazia fronteira a norte do Rio Zaire
com os reinos de N'Goyo (Cabinda), Cacongo (Landana), Loango (Ponta
Negra), Vungu, e o Reinos dos Anzicos (Bateque - na margem norte do Rio
Zaire, a nordeste da actual cidade de Kinshasa), a leste com as terras
do Dembo Ambuíla (Quibaxe, de população Ambundo) e o reino da
Matamba a sudeste(até ao Rio Cuango), e a sul do Rio Bengo (Zenza) com
as terras do Dembo Cahenda e do Ngola do Reino do Ndongo (Angola). O
território do reino do Congo chegava até à baía de Luanda, pois era aí
que se obtiam os zimbos (conchas pequenas) que serviam de moeda do
reino. A ráfia de Mbata era da melhor qualidade e beleza e era famosa e
muito cara na Europa desse tempo.
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Mbanza Kongo, gravura de Olfert Dapper, 1680 |
A
sucessão dinástica dos reis do Congo (os Ntotila) não era hereditária.
De facto, o rei do Congo (Manicongo, Ntótila ou Wene Wa Kongo) era eleito pelos
sobas principais (os Mani) representando as principais linhagens (clãs) que governavam as
"províncias" do reino.
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A embaixada portuguesa de Rui de Sousa ao Mani Sonho (1491)
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Como eleitores do Ntótila,
os Muene (mani) tinham um
importante peso político no Congo. De facto, eram os chefes das kandas
principais que se escolhiam os reis. As kandas (casas reais) mais
destacadas foram a casa Lukeni (1390-1567), Coulo (1567-1622 e
1626-1631), Kincanga (1622-1626), Kimpanzo (1636), Kinzala (1636-1665).
Depois da derrota de Ambuíla em 1665, o Reino do Congo entrou numa
crise política profunda com muitos reis usurpadores e depostos, baseados
ao mesmo tempo em diferentes capitais do reino (São Salvador, Kibango,
Inkondo, Ambamba-Lovata, e em Lemba-Ambula). Depois de 1709, houve uma
tentativa de reunificação das kandas principais que estabeleceram um
sistema de escolha rotativo, em que as casas reais Água Rosada,
Kimpanzo, e Kinzala foram as mais predominantes.
Depois do controle
português sobre o reino estabelecido em 1891, a casa dos Água Rosada
deteve o poder até 1914. Depois desta data, os reis do Congo eram mais
titulares (título honorífico) do que reis efectivos pois a autoridade
passou para a administração colonial potuguesas. Esta situação de reis
titulares substiste ainda hoje, mesmo depois da independência.
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Antigas maneiras de viajar no Congo, gravura do séc.XVI |
Devo esclarecer aqui que o uso dos termos reino, ducado, e marquezado são
uma adaptação portuguesa da organização política nativa
tradicional de
sobados mais ou menos independentes da região, para os quais o factor
linhagem era o factor mais importante.
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A Corte do Rei do Congo, D. Álvaro (1567-1587), gravura de Olfert Dapper (1680), |
Durante
o período de ocupação portuguesa efectiva das terras do Congo nos
princípios do século XX, os reis do Congo (os Ntotila) mantiveram o seu
título, mas a sua autoridade política e administrativa foi muito
diminuída pela autoridade colonial. Durante esse período, o Rei D.
Manuel III reinou de 1914 a 1915, o Rei D.Álvaro XV de 1915 a 1923, e o
Rei D. Pedro VIII reinou de 1923 a 1955, que faleceu em São Salvador.
D. Pedro VII, foi sucedido pr D. António III em 1955 com o apoio das
autoridades portuguesas e igreja católica, não obstante a oposição local
protestante.
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O Rei do Congo Dom Pedro VIII e sua Família na sua Residência em São Salvador do Congo, 1938
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Este diferendo veio dar origem à formação da União dos Povos do Norte de Angola (UPNA), que em 1958 sob a direcção de Holden Roberto se passou a designar por União dos Povos de Angola (UPA), sob a influência de Franz Fanon, o teórico da ideologia anti-colonialista. D. António III
veio a falecer em 1957 e só veio a ser sucedido em 1962 por D. Pedro IX
Afonso.
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As ruínas da catedral de São Salvador, Mbanza Kongo, séc. XVI |
Os
primeiros contactos dos portugueses com a região da Damba tiveram lugar
com o estabelecimento do hospício do Incusso (Nkusu) de existência
efémera, a leste de São Salvador, sul de Maquela e perto da Damba,)
pelos
padres Capuchinhos italianos em meados do século XVII (entre 1647 e
1651). De acordo com Dom Manuel Nunes Gabriel, antigo Arcebispo de Luanda, na sua obra "Angola - Cinco Séculos de Cristianismo"
foram nesse tempo estabelecidos cinco hospícios no Congo (Sonho (em
Pinda, Soyo), São Salvador, Incusso (Damba), Bamba Congo (Bembe), e
Bamba Lubota (perto do Ambrizete, Nzeto), e cada hospício servia de base
para o trabalho de evangelização itenerante dos padres Capuchinhos.
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O Rei do Congo Dom António III, que reinou entre 1955 e 1957 e sua esposa, Dona Isabel Maria da Gama que o sucedeu como regente até 1975
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Em
1758, no tempo do governador António de Vasconcelos, uma expedição
militar portuguesa liderada pelo tenente de ganadeiros Francisco Manuel
de Lira chegou à Pedra do Encoge, situado a sul da província de Mbamba
(ao sul da actual vila de Nova Caipemba e a oeste do Songo), onde
estabeleceram o presídio de São José do Encoge em 1759. Este presídio estava já
situado nas terras do Dembo Ambuíla, que era um potentado independente
do reino do Congo.
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Ruínas da Igreja do Forte de São José do Encoge (1759) O Forte do Encoge foi restaurado em 1971 |
Poucos
anos depois, o notável governador Francisco Inocêncio de Sousa
Coutinho, que governou Angola entre 1764 e 1772, incumbiu o Capitão
Duarte de Sequeira de chefiar uma coluna militar aos presídios de Ambaca
e de São José do Encoge, com o intuito de pacificar o Ambuíla, os
Mahungos, e os Sossos (a sudeste da Damba), o que não foi possível realizar-se.
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Mapa dos territórios de Cabinda e Malembo, 1904 |
A ocupação
efectiva do (então futuro distrito do) Congo pelos portugueses não começaria até aos princípios do
século XX. A estratégia da penetração portuguesa começou com a conquista e ocupação do Ambriz em 1858 (depois do acordo com a Inglaterra sobre a Quetsão do Mossul e Ambriz), seguidas do estabelecimento da vila do Bembe em 1857, e ocupação de São Salvador em 1881, de Maquela em 1896, da Damba em 1911, de Sanza Pombo em 1914, e do Uíge em 1917.
Só depois da
pressão criada pela Conferência de Berlim em 1885 que obrigava à ocupação efectiva dos territórios na foz do Zaire, em oposição ao argumento de direitos históricos invocados pelos portugueses, e da consequente acção
do então Bispo do Congo D. António Barroso é que os portugueses estão
de volta à região de São Salvador (Mbanza Kongo).
a fundação da capitania-mor da Damba em
1917. A ocupação efectiva da Damba pelos portugueses começou formalmente
em Dezembro de 1911 com o estabelecimento do Posto Militar da Damba,
que passou a capitania-mor em 1913, sendo para aí destacada a 1ª
companhia do Batalhão destacado para o Norte de Angola. Em 1917 a Damba passa a capitania-mor e em 1921, a Damba
passou a ser uma circunscrição civil, e a concelho em 1934. A povoação da Damba foi elevada a vila em 1950.
A população
total do concelho da Damba em 1959 era de 71.571, com uma densidade
populacional média de 9,05 habitantes por quilómetro quadrado (com o
mais elevado índice no distrito do Uíge). A área do concelho da Damba
era de 8.330 quilómetros quadrados.
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A Tipoia era o principal meio de transporte para europeus nas primeiras décadas do Séc. XX no Norte de Angola |
O
distrito do Congo Português foi criado em 1886 com capital na Vila de
Cabinda e
incluía cinco residências (a saber Cabinda, Cacongo (Lândana), St.
António do Zaire, Ambrizete, e São Salvador). Em 1912 foi criada a
circunscrição de Maquela do Zombo e as capitanias do Bembe (a oeste),
Damba (ao centro), e Cuango (a leste). Em 1913-14 houve um forte
movimento de resistência (uma revolta generalizada) contra a ocupação
portuguesa da região que levou a uma ocupação militar portuguesa mais
forte e
efectiva da região. Em 1917 a sede do distrito passou de Cabinda para
Maquela do Zombo (que tinha já uma repartição de Fazenda, de Alfândega, e
uma estação de correio), e foi estabelecida a capitania-mor da Damba.
Em 1922, o distrito do Congo foi dividido em dois: o Distrito de do
Zaire, com sede em Santo António do Zaire, incluindo Cabinda, Noqui, e
Santo António do Zaire, e o Distrito do Congo, ainda com capital em
Maquela do Zombo, compreendendo as circunscrições civis do Zombo, S.
Salvador, Bembe, Damba, e Pombo. Depois de mais algumas reorganizações
administrativas nas três próximas décadas, a configuração administrativa
do Congo Português passou finalmente em 1956 a compreender dois
distritos: o distrito do Zaire, com
sede em São Salvador, e o distrito do Uige, com sede na cidade de
Carmona (Uige), da qual o concelho da Damba fazia parte até à
independência de Angola em 1975.
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Antiga secretaria militar, na rua principal em Cabinda, 1910 este barracão ainda era usado em 1975 |
O distrito do Congo tinha uma área de 64.022 quilómetros quadrados. Segundo o antigo governador do distrito do Congo, Major Hélio Felgas,
em 1959, a população do distrito do Uíge era composta de 468.416
africanos , 7.172 brancos, 2.518 mestiços, e 751 africanos assimilados,
para um total de 478.857 pessoas. Em 1967, a agricultura era a
principal actividade económica do distrito, dos quais se destacava o
café com 412 fazendas e uma produção de 73.000 toneladas, seguida de
17.500 toneladas de ginguba (amendoím), 1.700 toneladas de algodão, e de
1.500 toneladas de arroz. Produziram-se ainda nesse ano cerca de
900.000 toneladas de mandioca para consumo de subsistência da população
africana. A exploração de madeira era também importante, com 35.000
metros cúbicos de madeira cortada. Nos recenseamentos gerais da
população de 1940 e 1950, a população dos Distrito do Congo (ou Uíje) .
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Uma vista de Luanda, cerca 1645 Gravura de Olfert Dapper
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Convém
reparar que tenho vindo a focar até aqui no período anterior ao
estabelecimento de Luanda e conquista do reino de Angola por Paulo Dias
de Novais, pois os portugueses estabeleceram-se primeiro na Ilha de São
Tomé (1471), depois no Congo (1491), depois em Luanda (1575) e foz do
Quanza (1589), e só mais tarde é que avançaram para o interior, com o
estabelecimento de relações com os N'Gola do Ndongo, já na primeira
década do século XVII, e em Benguela em 1617.
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Luanda, vista parcial da Cidade Alta, ca. 1900 |
Nota- Secção ainda em desenvolvimento
Inserir aqui Tabelas dos Censos de Luanda e Angola
Vida terrena e o sobrenatural
Mitos e lendas
Crença e religião
Religião ancestral Bakongo
Enagelização católica no Congo
Dom Afonso I, o primeiro rei do Congo católico
Padroado e Propaganda Fide
Jesuítas no Congo
Capuchinhos no Congo
Sincretismo religioso e nacionalismo - Beatriz Vita
Acção das igrejas protestantes no Congo - Metodista, Baptista, e United Church
Evangelização católica moderna no Congo - Dom António Barroso e missões católicas
Sincretismo religioso recente
A religião é um componente essencial em qualquer sociedade ou civilização.
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Padre Capuchinho italiano pregando evangelização no antigo Ducado do Sonho (Soyo), Séc. XVII
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6. Refugiados do Congo Belga
Já
em 1959 e 60, assisti à debandada dos colonos europeus do então Congo
Belga, onde viviam os nossos tios Agostinho e Mélita, e o meu primo Hugo
e a minha prima Luísa, com quem íamos passar férias de vez em quando à
vila de Moerbeck, onde viviam. Os refugiados passavam diariamente em
longas filas de carros caros Mercedes abarrotados de bens pessoais pela
nossa pacata Vila da Damba em direcção a Luanda, e daí para a Europa.
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O Antigo Congo Belga, 1955 |
Ainda no mesmo ano não fez sentido para mim a suspensão do Grande Rally Automóvel Leopoldville - Luanda - Matadi - Leopoldville,
o maior acontecimento do ano naquelas pacatas paragens, e muito menos
este êxodo de carros e famílias que dia-a-dia aumentava em volume e
intensidade.
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Momento de Partida do Rally Leopoldville - Luanda - Matadi - Leopoldville, 1959 |
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Percurso do Rally Leopoldville - Luanda - Matadi - Leopoldville |
Perguntei
à minha mãe o que é que estava a acontecer, e ela disse-me então que
eram refugiados do Congo Belga que temiam a independência da colónia do
Congo Belga marcada para 30 de Junho de 1960, e que era uma questão de
tempo até acontecer o mesmo aos Portugueses em Angola.
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A SABENA (Linhas Aéreas Belgas) tinha ligação entre Leopoldville e Luanda. Fotografia de um avião Dakota no antigo Aeroporto Emílio de Carvalho situado entre os bairros da Vila Alice e do Café (1953). |